ENTREVISTA

Sobrinho-bisneto de Santos Dumont conta curiosidades sobre o Pai da Aviação

Sociólogo Marcos Villares falou sobre o desafio de deixar viva para as próximas gerações a história do Patrono da Aeronáutica Brasileira
Publicada em: 01/08/2023 11:17
Imprimir
Fonte: IV COMAR, Tenentes Mayara e Urakawa
Edição: Agência Força Aérea

O sociólogo Marcos Villares, sobrinho-bisneto de Alberto Santos Dumont, cheio de orgulho do seu ilustre tio, falou sobre curiosidades do Pai da Aviação, como a convivência dele com os parentes e o costume de escrever cartas aos familiares. Marcos falou ainda sobre o desafio de deixar viva para as próximas gerações a história do Patrono da Aeronáutica Brasileira.

Confira a entrevista concedida para a Força Aérea Brasileira (FAB):

FAB: Quem foi Santos Dumont para o senhor?

Marcos Villares: "Um homem à frente de seu tempo, uma pessoa idealista, que pensava que a ciência devia ser usada a favor da humanidade, em benefício de todos. Além do lado cientista inovador, tinha um lado humanista, de achar que a tecnologia devia pertencer a todos e as pessoas deveriam ser beneficiadas por ela. Por exemplo, ele sabia que o avião poderia ser usado para guerra, percebe isso, não concorda e fica abalado quando isso acontece. Então, ele deixa isso por escrito em algumas ocasiões, que sua invenção devia ser um benefício para todos, para unir as pessoas e os países. E esse era o objetivo dele, que o avião fosse usado a favor e para o bem da humanidade".

FAB: Como é para o senhor carregar a importância do nome Santos Dumont na família?

Marcos Villares: "Eu me envolvi com a história de Santos Dumont em 1998, na casa de uma prima, a Sophia Helena, que tinha um acervo muito importante dele. Um arquivo que exigiu muito cuidado durante toda sua vida. E, quando faleceu, deixou por escrito sua vontade de doar para a Força Aérea Brasileira. Eu tive a honra de ir à cerimônia de doação, no INCAER".

"Esse material foi doado para a Força Aérea, que fez um excelente trabalho de digitalização e restauração do acervo, único no mundo. Se alguém no futuro for estudar a história da aviação, a história da ciência dessa área, esse acervo é muito valioso porque tem matérias de jornais do mundo inteiro relativas a Santos Dumont. Sophia Helena foi casada com o Brigadeiro Lavenère-Wanderley, por isso confiou este tesouro à FAB".

FAB: Fale um pouco sobre histórias e curiosidades da família.

Marcos Villares: "Meu avô também se chamava Alberto, e há uma fotografia do Alberto para o Alberto, que o Santos Dumont deu para o meu avô com autógrafo. Santos Dumont tinha uma convivência ótima com a família e adorava escrever cartas para cada parente. Os sobrinhos foram muito importantes em sua vida. O Jorge, filho da Virgínia, foi quem acompanhou Santos Dumont em seu último ano de vida. Virginia era a irmã mais velha que o ensinou a ler e a escrever. Não está na biografia, mas eu tenho relato da família que, outra irmã, mais velha, também o ensinou a ler e a escrever.  Enfim, Santos Dumont tinha um bom ambiente familiar e um carinho especial pelo pai".

FAB: Tem algum item do acervo que é muito especial para o senhor? Que tem em casa e não doa para ninguém?

Marcos Villares: "Tem um lenço com as iniciais “S” e “D” e umas asas desenhadas, que Santos Dumont deu para o sobrinho Nuno, que morava em Portugal. Nuno era filho de Maria Rosalina e quando ganhou o lenço, tinha por volta de 10 anos. Nuno, mais tarde, deu o lenço para um tio e esse tio me deu. E quando o astronauta brasileiro, Marcos Pontes, foi para o espaço pela primeira vez, em 2006, levou este lenço de Santos Dumont, com uma réplica de seu chapéu, e assim, o lenço ganhou um carimbo da Estação Espacial Internacional, em russo. É um item que guardo com muito carinho e vou deixar por escrito, que quando eu morrer, ele deve ser doado para o Museu Paulista. Este museu também recebeu mais de mil itens de materiais de Santos Dumont".

FAB: O quão representativo é para o senhor a data dos 150 anos do legado do Santos Dumont?

Marcos Villares: "É muito importante para o nosso país, de forma geral. Acaba sendo um patrimônio nosso, esse legado que Santos Dumont deixou, e temos o dever de levar adiante isso. Agradeço à Força Aérea por ajudar a fazer isso ao longo do tempo, que sempre teve essa missão de ajudar a levar a história de Santos Dumont e o legado de inovação, pioneirismo e propósitos que foram e são importantes para o crescimento do país".

FAB: Para os jovens que estão nascendo hoje, 150 anos depois de Santos Dumont, quando eles olham para trás, o que o senhor gostaria que eles vissem na figura do Pai da Aviação?

Marcos Villares: "Eu quero que a nova geração tenha Santos Dumont como exemplo; que as crianças conheçam sua história e que pensem: “olha o que esse cara fez! Se ele fez, eu também posso fazer”, e podem. Mas para isso, a gente tem que fazer com que o país dê condições para as crianças serem Santos Dumont. São justamente as crianças que vão levar essa história e esse país para o futuro. Então, é digno que passemos isso para as próximas gerações. Eles devem amar nosso país, apesar das dificuldades, eles devem amar a ciência, e dar asas para sua imaginação. Acho que isso é um recado que Santos Dumont gostaria deixar para os jovens".

Fotos: Tenente Mayara / IV COMAR